quarta-feira, 12 de abril de 2023

Harry Laus 100 anos!

Hoje dia 12, quarta-feira, às 18h, continua o programa Homem Plural - 100 Anos de Harry Laus –, a ser realizado na Sala Lindolf Bell, no Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis (SC). Além deste encontro, a ação segue nos dias 19 e 26 de abril, no mesmo local e horário. A vida e trajetória do jornalista, escritor, crítico de arte e gestor de museus natural de Tijucas (SC) conta com convidados e discussões presenciais que alinhavam memórias e análises sobre a amplitude deste legado. As atividades em torno do centenário abriram em dezembro do ano passado para marcar o nascimento do homenageado em 11 de dezembro de 1922. Seis instituições estão envolvidas neste tributo: Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Masc, Museu da Imagem e do Som (MIS), Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O segundo dos quatros encontros planejados no evento Homem Plural ganha nova faceta, agora sob a ótica familiar. Dois sobrinhos e um sobrinho neto trazem recortes inusitados sobre o homenageado. Beto Laus, Cesar Laus e Alemão Bayer, nome de Ildefonso Bayer Reichmann, estimulam o bate-papo com o público revisitando as singularidades do convívio, da vida e da obra de Laus. A mediação desta conversa será feita por Marcello Carpes, formado em licenciatura em artes visuais, pela

Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), é vice-presidente da

Associação de Produtores e Arte Educadores em Cultura Urbana de

Florianópolis (Apaecuf), gestão 2019-2023. Atua como artista, curador independente e arte educador. Atualmente trabalha, em caráter terceirizado, no Núcleo de Ação Educativa (NAE), do Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), como arte educador.

Família substancial na história literária de Santa Catarina, a presença intelectual dos Laus se circunscreve pela contribuição de Harry Laus e das irmãs Ruth, Esther, Celeste, Cora e da prima Lausimar, todas autoras de livros ficcionais ou não.

Pelos vínculos com o homenageado e o propósito do reconhecimento, a escolha dos convidados busca conexões afetivas. A participação dos mapeados é enriquecedora, pois ajuda a compor um possível perfil desta complexa personalidade que deu enorme contribuição ao campo cultural de Santa Catarina.

A comissão organizadora do evento é composta por Liliana Alvez, diretora de arte e cultura da FCC, Maria Helena Barbosa, do Núcleo Educativo do Masc, Maria Teresa Collares, gestora cultural e diretora da empresa Rede Cultural, Néri Pedroso, jornalista que representa o Instituto Collaço Paulo e Patrícia Amante, artista e professora de oficinas de arte no CIC.

 

Programação

12.4.2023, 18h – Vida e Obra - Um Breve Perfil Biográfico

Convidados: Beto Laus, César Laus e Ildefonso Bayer Reichmann (Alemão Bayer)

 

19.4.2023, 18h – Laus na Gestão do Museu de Arte de Joinville (MAJ) e na Sala Lindolf Bell

Convidados: Maria Teresa Collares, sucessora de Laus na administração do Masc, Onor Filomeno - ex-diretor das Oficinas de Arte do Centro Integrado de Cultura (CIC) e Loro – Lourival Pinheiro de Lima, artista visual.

 

26.4.2023, 18h – Literatura e Crítica de Arte

Convidados: Sandra Makowiecky, presidente da Associação Brasileira de Crítica de Arte (ABCA) e Joca Wolff, professor de literatura na UFSC, que faz uma abordagem do Laus como escritor.

 

JÁ REALIZADO

7.12.2022, 18h – Laus no Cinema e Os Arquivos

Convidados: Ronaldo dos Anjos, com exibição do filme “O Santo Mágico” e “As Horas do Professor”, e Tânia Regina Oliveira Ramos, professora do curso de pós-graduação em letras e literatura da UFSC.

 

 

Sobre Harry Laus

Jornalista, crítico de arte, escritor e gestor de museus, natural de Tijucas, vive a infância em uma família de escritores e artistas. Homem de diferentes atributos, serve o Exército brasileiro de 1946 a 1964, sendo transferido para a reserva no posto de tenente-coronel. Nos anos em que mora no Rio de Janeiro e São Paulo, tem intensa atividade jornalística, escrevendo sobre arte em veículos como o “Jornal do Brasil” e as revistas “Veja” e “Senhor”, e priva da amizade de artistas e intelectuais renomados. Depois de morar em mais de 40 cidades do Brasil, retorna ao Estado em 1976 como um dos críticos de arte mais respeitados do país, carreira iniciada em 1961. Atua nos jornais “A Notícia” e “Diário Catarinense”.

Atua como diretor do Museu de Arte de Joinville (1980/82) e do Museu de Arte de Santa Catarina (1985/87 e 1989/92) em períodos de efervescência cultural no Estado. Integra a Associação Brasileira dos Críticos de Arte e a Associação Internacional dos Críticos de Arte.

Como escritor publica 12 livros, entre romances, novelas e contos. Traduzido na França, se consagra com “Monólogo de uma Cachorra sem Preconceitos”, “As Horas de Zenão das Chagas” e “Os Papéis do Coronel”. No campo das artes, escreve o “Indicador Catarinense das Artes Plásticas”, valiosa fonte de pesquisa. Profundo articulador, com conhecimento descobre talentos, aproxima pessoas, produz pensamento crítico, alavanca autoestimas. Promove panoramas, retrospectivas, perspectivas, como denominava as mostras que faz questão de levar para outros Estados do Brasil. In memoriam, é homenageado em 1993 ao dar o seu nome à uma sala especial climatizada do Museu de Arte de Santa Catarina e, em 1997, recebe a Medalha de Mérito Cultural Cruz e Sousa.

 

 

SAIBA MAIS

http://harrylausvivo.blogspot.com/

 

SERVIÇO

O quê: Tributo - Homem Plural - 100 Anos de Harry Laus

Quando: 12.4.2022, quarta-feira, 18h

Onde: Sala Lindolf Bell, Centro Integrado de Cultura (CIC), av. Irineu Bornhausen, 5600, bairro Agronômica, Florianópolis, tel.: (48) 3664-2630 / 3664-2633

Quanto: gratuito

 

REALIZAÇÃO

Fundação Catarinense de Cultura/Museu de Arte de Santa Catarina

 

APOIO

Associação Brasileira de Críticos de Arte de Santa Catarina

Instituto Collaço Paulo - Centro de Arte e Educação

Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina

Universidade Federal de Santa Catarina



--
NProduções Néri Pedroso (jorn.) neripedroso@gmail.com Skype: neripedroso  Face: Néri Pedroso (48) 9911-9837/3248-4158


 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

 


HOMEM PLURAL  100 ANOS DE HARRY LAUS

 

Ação marca o centenário do tijucano que deixou legado

na gestão museológica, na crítica de arte e na literatura

 

No dia 7 de dezembro, às 18h, abre-se o programa Homem Plural - 100 Anos de Harry Laus –, a ser realizado no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), em Florianópolis (SC), nos dias 7 de dezembro de 2022 e nos dias 12, 19 e 26 de abril de 2023, sempre às 18h. O aniversário do jornalista, escritor, crítico de arte e gestor de museus será marcado por quatro encontros presenciais que pretendem alinhavar memórias e análises sobre a amplitude do legado deste tijucano, nascido em 11 de dezembro de1922. Seis instituições estão envolvidas neste tributo: Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Masc, Museu da Imagem e do Som (MIS), Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os painéis ocorrerão no Espaço Claraboia, no Masc, e a sessão de filmes, na sala de cinema Gilberto Gerlach, no Centro Integrado de Cultura (CIC).

O primeiro encontro e bate-papo com o público entrelaça o cinema e os arquivos, uma faceta do homenageado que tinha o hábito de tudo documentar e listar. Os dois primeiros convidados que ajudarão a revisitar vida e obra de Harry Laus, na sala de cinema Gilberto Gerlach, no dia 7 de dezembro, são Ronaldo dos Anjos, diretor de cinema e Tânia Regina Oliveira Ramos, professora do curso de pós-graduação em letras e literatura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Na ocasião, na sala de cinema Gilberto Gerlach, antes das falas de Ronaldo dos Anjos e de Tania Regina Oliveira Ramos, serão exibidos “O Santo Mágico” e “As Horas do Professor”, vídeo de um minuto, feito para o Festival do Minuto. “O Santo Mágico”, curta-metragem de 35mm de Ronaldo, baseado na novela de Laus escrita em 1982, foi rodado em 2002, com locações em Porto Belo, Biguaçu e Florianópolis. No elenco, em destaque estão Sérgio Mamberti, Édio Nunes, Werner Schünemann e Giovana Gold. Selecionado para o 14º Festival Internacional de São Paulo e para o 27º Festival Guarnicê de Cinema, o filme integrou o 8º FAM, no qual conquistou uma menção honrosa. O Santo Mágico” é o primeiro de uma trilogia místico-cinematográfica inspirada na literatura catarinense que segue com “Astherus” (2012) e fecha com “O Demônio e as Margaridas(2016).

Doutora em letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), com uma linha de atuação no campo da linguística, das letras e artes, literatura brasileira e teoria literária, Tânia Regina Oliveira Ramos falará dos arquivos de Harry Laus. Ela atua na UFSC, onde mantém proximidade com os documentos doados à instituição e disponíveis no Núcleo de Pesquisa de Literatura e Memória (Nulime) do curso de pós-graduação em literatura, que ela coordena. Memorialista e contumaz arquivista, o escritor arquivava papéis, originais dos livros, cartas, recortes de jornais, fotografias, relatórios. Apreciava listar e sistematizar informações. O valor e as descobertas feitas neste arquivo entram na abordagem de Tania Ramos.

Pelos vínculos com o homenageado e o propósito de prestar um reconhecimento, a escolha dos convidados busca um envolvimento afetivo. A participação dos mapeados será enriquecedora, ajudará a compor um possível perfil desta complexa personalidade que deu enorme contribuição ao campo cultural de Santa Catarina.

O evento conta com uma comissão organizadora composta por Maria Helena Barbosa, Maria Teresa Collares, Néri Pedroso, Patrícia Amante e Susana Bianchini.

 

Programação

7.12.2022, 18h – Laus no Cinema e Os Arquivos

Convidados: Ronaldo dos Anjos, com exibição do filme “O Santo Mágico” e “As Horas do Professor”, e Tânia Regina Oliveira Ramos, professora do curso de pós-graduação em letras e literatura da UFSC.

12.4.2023, 18h – Vida e Obra - Um Breve Perfil Biográfico

Convidados: César Laus e Egeu Laus (a confirmar)

19.4.2023, 18h – Laus na Gestão do Museu de Arte de Joinville (MAJ) e no Masc

Convidados: Maria Teresa Collares, sucessora de Laus na administração do Masc, Onor Filomeno - ex-diretor das Oficinas de Arte do Centro Integrado de Cultura (CIC) e Loro – Lourival Pinheiro de Lima, artista visual.

26.4.2023, 18h – Literatura e Crítica de Arte

Convidados: Sandra Makowiecky, presidente da Associação Brasileira de Crítica de Arte (ABCA) (a confirmar) e Joca Wolff, professor de literatura na UFSC, que faz uma abordagem do Laus como escritor.

 

Sobre Harry Laus

Jornalista, crítico de arte, escritor e gestor de museus, natural de Tijucas, vive a infância em uma família de escritores e artistas. Homem de diferentes atributos, serve o Exército brasileiro de 1946 a 1964, sendo transferido para a reserva no posto de tenente-coronel. Nos anos em que mora no Rio de Janeiro e São Paulo, tem intensa atividade jornalística, escrevendo sobre arte em veículos como o “Jornal do Brasil” e as revistas “Veja” e “Senhor”, e priva da amizade de artistas e intelectuais renomados. Depois de morar em mais de 40 cidades do Brasil, retorna ao Estado em 1976 como um dos críticos de arte mais respeitados do país, carreira iniciada em 1961. Atua nos jornais “A Notícia” e “Diário Catarinense”.

Atua como diretor do Museu de Arte de Joinville (1980/82) e do Museu de Arte de Santa Catarina (1985/87 e 1989/92) em períodos de efervescência cultural no Estado. Integra a Associação Brasileira dos Críticos de Arte e a Associação Internacional dos Críticos de Arte.

Como escritor publica 12 livros, entre romances, novelas e contos. Traduzido na França, se consagra com “Monólogo de uma Cachorra sem Preconceitos”, “As Horas de Zenão das Chagas” e “Os Papéis do Coronel”. No campo das artes, escreve o “Indicador Catarinense das Artes Plásticas”, valiosa fonte de pesquisa. Profundo articulador, com conhecimento descobre talentos, aproxima pessoas, produz pensamento crítico, alavanca autoestimas. Promove panoramas, retrospectivas, perspectivas, como denominava as mostras que faz questão de levar para outros Estados do Brasil. In memoriam, é homenageado em 1993 ao dar o seu nome à uma sala especial climatizada do Museu de Arte de Santa Catarina e, em 1997, recebe a Medalha de Mérito Cultural Cruz e Sousa.

 

Sobre – minibios

Ronaldo dos Anjos - Jornalista e produtor audiovisual. Foi assessor de imprensa da Fundação Catarinense de Cultura e o primeiro administrador do Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina. No vídeo, conquistou prêmios com documentários e ficções produzidos nas bitolas VHS e S-VHS. Como diretor e roteirista, ao migrar para as bitolas profissionais, película e digital, teve sua trilogia premiada adaptando contos de escritores catarinenses para o cinema.

Tânia Regina Oliveira Ramos – professora titular de literatura na Universidade Federal de Santa Catarina, coordenadora do Núcleo de Pesquisa de Literatura e Memória (Nulime), editora da revista “Estudos Feministas” e uma das organizadoras do espaço virtual de literatura catarinense, o portal Catarina. Pesquisa e atua nos programas de graduação e pós-graduação da UFSC nas linhas de gênero e subjetividade, história e memória.

 

SAIBA MAIS

http://harrylausvivo.blogspot.com/

Trailer e making of de “O Santo Mágico” https://m.youtube.com/watch?v=qIHPX9D9YWs

 

SERVIÇO

O quê: Tributo - Homem Plural - 100 Anos de Harry Laus

Quando: 7.12.2022, 18h

Onde: Sala de cinema Gilberto Gerlach, Centro Integrado de Cultura (CIC), av. Irineu Bornhausen, 5600, bairro Agronômica, Florianópolis, tel.: (48) 3664-2630 / 3664-2633

Quanto: gratuito

REALIZAÇÃO

Fundação Catarinense de Cultura/Museu de Arte de Santa Catarina

APOIO

Associação Brasileira de Críticos de Arte de Santa Catarina

Instituto Collaço Paulo - Centro de Arte e Educação

Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina

Universidade Federal de Santa Catarina

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Grande artigo no Jornal do Brasil em 30 de dezembro de 1962: (clique na imagem para ampliar)




domingo, 15 de novembro de 2020

 Nota na Revista Manchete nº 54 de 2 de maio de 1953:


domingo, 17 de maio de 2020

Harry Laus ganha o Prêmio Nicolau Carlos Magno em 1953

Recorte do Jornal "Correio da Manhã" de 25 de março de 1953:


terça-feira, 14 de maio de 2013

Harry Laus escreve do Nordeste em 1947

Publicada entre 1946 e 1948, pelo contista Dalton Trevisan (nascido em Colombo, região da grande Curitiba, PR, em 1925), Joaquim foi a mais importante revista jovem brasileira de todos os tempos, pois aliava arte e cultura, dando às suas páginas uma leveza gráfica ímpar. Na cola dela, surgiram inúmeros veículos jovens por todo o Brasil, pois aquele era um momento de entrada, no campo literário, de uma vasta população de produtores culturais, principalmente os das províncias – cujas cidades os moços tentavam habitar modernamente, rompendo com os passadismos.

Distribuída em praticamente todos os estados, Joaquim rapidamente se tornou um sucesso nacional, recebendo colaboração de todos os cantos. Somente no número 11, em junho de 1947, o catarinense Harry Laus começa a publicar nela uma pequena série de cartas do nordeste. Neste ponto da história da revista, ela já era mais brasileira do que curitibana e a presença de Harry Laus reforça o ideário desse projeto coletivo.

Laus escreve cartas num estilo altamente palatável, sem nenhuma pose professoral, bem dentro da gramática descontraída da revista. Há um tom ficcional nessas cartas, dirigidas não ao editor, mas ao personagem Joaquim, tomado como uma pessoa de carne e osso.

O catarinense busca não as belezas turísticas de Natal, mas a cidade viva, sua linguagem e as histórias simples. Há, nas quatro cartas, um carinho pelas pessoas comuns, percebidas como fonte artística. Este mesmo sentimento de amor pela periferia, um amor moderno, vai marcar toda a produção contística de Trevisan e a atuação da Joaquim. Harry Laus se deixa encantar pelos hábitos nordestinos, relatando-os com muita afetividade: “Interessante foi a garotada na estação vendendo água para beber – olha a água fria! – a duzentão o copo” (n.11, p.18). Tudo é descoberta para esse habitante do sul que, como toda a sua geração, busca ler, pela língua da experiência, os outros brasis.
Tal interesse pelo país fica ainda mais evidente na segunda carta (n. 12, p. 14), quando ele conta os encontros com Câmara Cascudo, um dos nomes centrais de nosso nacionalismo modernista. É esta pátria profunda que o escritor catarinense desvela para Joaquim, fascinado pelo sabor de suas expressões e por sua culinária.

Deixando Natal, de trem, ele chega a Recife, atrás do mesmo contato íntimo com a cidade. Depois de compartilhar suas descobertas, abandona a escrita da carta para dar prosseguimento à sua viagem amorosa pela região: “Adeus. Antes de ir embora ainda preciso descobrir para que lado corre o rio: quando penso que é para um, a maré empurra para outro” (n.14, p.18). Nestas duas forças antípodas, vislumbradas na luta entre o rio e a maré, está localizada a tensão que vai marcar a passagem do escritor pelo nordeste. Na carta seguinte, última colaboração sua na revista, ele sofre o desejo de retorno: “Não quero mais ver as praias e esta lua extravagante daqui, nem ouvir o doloroso lamento do animal mais contemplativo deste mundo, o jumento. Preciso andar debaixo do céu daí, ver as florestas daí, dormir com acolchoados de penas, sentir frio e falar saindo fumaça da boca” (n.17, p.17). E assim se fecha o ciclo que marcou os daquela geração. Eles querem largar a cidade, descobrir o Brasil e o mundo, para poder voltar e fundar uma nova cidade natal. É o que poderíamos chamar de ética do filho pródigo, um movimento típico de culturas novas, em processo de afirmação. Conhecemo-nos em contraste com outras culturas, importando coisas mas também ressaltando algumas características próprias.

Se Harry Laus se entusiasma com as cidades e os tradutores de seu diferencial linguístico, geográfico e humano, ele não perdoa a tacanhez da arte provinciana e faz uma crítica irônica a um espetáculo encenado no Teatro Carlos Gomes, em Natal – n. 15, p.6. Era o contato com o homem nacional periférico que lhe interessava, porque os modelos técnicos ele os buscava nas altas literaturas.
Tal como confessa à Joaquim (n.13, p.18), num depoimento que trata de sua opção pelo conto e de suas dúvidas e certezas. Laus valoriza o artesanato na construção do conto, o trabalho com a linguagem, apontando como mestres contemporâneos: Joyce, Gide, Virgínia Woolf, Proust e Sartre – e não é mera coincidência o fato de todos esses autores terem sido publicados nas páginas da Joaquim – uma revista que condensou o espírito de uma época de abertura para mundo.

(Publicado no Jornal "Ô Catarina!" de 1 de maio de 2002)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Hermínio Bello de Carvalho com Laus, Canabrava, Lucio Cardoso e outros...


Harry Laus foi grande amigo e conviveu longamente no Rio de Janeiro com os pintores Walter Wendhausen e Luis Canabrava. Aqui, Hermínio Bello de Carvalho, nas Memórias gravadas no seu "Blog do Acervo HBC" ele conta do ambiente cultural daquela época:

(...) "Lembro que, nas décadas de 40 e 50, aqui no Rio de Janeiro, era moda freqüentar a casa do escritor Aníbal Machado, pai da teatróloga Maria Clara (“Pluft, o fantasminha”) de igual sobrenome.

Me lembro, e muito muito vagamente, de ter passado por lá. Tertúlias, saraus, essas coisas andavam na moda. Algumas pecavam pelo excesso, com declamações que inevitavelmente desaguavam n’ “O Corvo” de Poe. Eu mesmo, encarapitado numa cadeira, dei os meus vexames iniciais num sarau promovido no bairro da Glória por um moço chamado Burlamarqui. Perdoemos aquele garoto de uns 5 anos, mas já afiado no “Periquitinho verde” do Nássara.

A formação intelectual de muita gente se deu assim, nesses convescotes nada convencionais. Cheguei a formar um duo violão-violino com meu amigo Luiz Carlos de Castro, para entreter um bando de desocupados que passavam pelos salões da Baronesa. A Baronesa era um funcionário graduado do Itamaraty. Ali se tocava, ali se comia e bebia, dali a gente se escafedia na célebre “hora da valsa”. Prefiro não entrar em detalhes.

Walter Wendhausen, Paulinho da Viola e Luis Sérgio Bilheri Nogueira

Quem não ouviu falar do Sábadoyle? Mas ali era uma concentração de pensadores peso-pesados, como Drummond de Andrade e Pedro Nava. Eram reuniões intelectualíssimas, como as que, até pouco tempo, nosso Oscar Niemeyer promovia em seu apartamento para discutir filosofia, física quântica e coisas afins.

Em São Paulo, Mário de Andrade era o centro de atenções na célebre casa da rua Lopes Chaves – o endereço intelectual mais célebre na desvairada Paulicéia dos anos 30/40. O carteiro despejava toneladas de cartas por dia, e até hoje não sei como o poeta dava conta do recado.

Contam (“O leitor apaixonado”, de Ruy Castro) que era assim, também, na casa de Gertrude Stein em Paris. Lá você esbarrava em Hemingway, Picasso, Cézanne, Matisse, Hemingway, Ezra Pound, T.S. Elliot...

Os grupos iam nascendo e se informando desse jeito, se alimentando dos contatos riquíssimos como aqueles proporcionados à gente da bossa-nova. João Gilberto, dizem, ia pouco por lá. Mas quando ia, que festa! era um passando o violão pro outro, tentando copiar o acorde inventado pelo Mestre. Eu já era taludinho, naquela época, quando a bossa-nova abriu seu berreiro (seus sussurros, aliás). Falo do finzinho da década de 50, quando 99% das pessoas interessadas em música popular se apaixonaram por suas invenções. José Ramos Tinhorão escovava os dentes com cicuta, já nessa época, para esfolar Tom Jobim em seus raivosos comentários críticos.

Mas voltemos ao apartamento de Walter Wendhausen e Luiz Canabrava, ambos pintores vanguardistas, mas que exerciam seus ofícios ilustradores no departamento de publicidade do Magazine Mesbla (Mestre et Blaget?), com desenhos academicíssimos de fogões, lamparinas, serrotes e o que mais se possa imaginar. Ossos do ofício. Eneida, Leonardo Villar (bem antes, portanto, de estrelar o “O pagador de promessas”), Van Jafa, Lucio Cardoso e sua irmã, a também romancista Maria Helena Cardoso, Harry Laus, quem mais? Muita gente. Grana pouca, cada um levava sua birita, ou ia pendurar sua conta com o Fernando, ali próximo no Lamas (ainda no largo do Machado).

Vamos nos situar: o ano, 1951. O apartamento era na Dois de Dezembro, meio Catete, meio Flamengo. Rio de Janeiro, portanto. Milhares de discos de 78 rotações, e havia de tudo: Aracy de Almeida, Louis Armstrong, Piaf, Pixinguinha, Fats Waller. Ecletismo musical era ali mesmo. E bebia-se Drummond e embriagava-se com Manuel Bandeira (com a poesia deles, esclareço, que desconheciam nossas existências). Braque, Picasso, Chagall, Modigliani. “O Encouraçado Potenkin” (só iria ver o filme muitos anos depois), as vanguardas teatrais ensaiando seus passos, as vernissages concorridíssimas – nada nos faltava em termos de informação. Tallulah Bankhead ou Erich Von Ströheim, Marlene Dietrich ou as “expansions” de César. Tudo praticamente tridimensionado, porque imaginação é o que não nos faltava. A grana?, curtíssima. No Lamas e no Bar Recreio nos abastecíamos de cerveja ou gin tônica, e nos deliciávamos vendo a Divina Elizeth entrar na companhia de seu namorado Ewaldo Ruy e, pasmem!, Ary Barroso.

Todo esse preâmbulo é para contextualizar a época virtual em que vivemos, escravos da Internet, e onde tertúlias e saraus saíram de moda ou se realizam um pouco às escondidas.

Fui procurado por um jovem pesquisador, a quem foi encomendado um livro sobre Luiz Canabrava. Ora, direis, quem hoje ainda lembra de Canabrava e Wendhausen? Mas eu que os freqüentei, que com eles convivi, posso atestar: a casa dos dois equivalia a um centro cultural – e acho que Paulinho da Viola deve pensar a mesma coisa.

O artista plástico Luiz Canabrava (c.1960)

Porque nos conhecemos, primeiramente, nos célebres saraus de Jacob do Bandolim, naquela casarona em Jacarepaguá. Em que anos estamos? Possivelmente 1955/56. Ele, Paulinho, na companhia de seu pai, o violonista Benedito César Faria. E eu municiando aqueles saraus com as cordas mágicas de meus amigos Maria Luisa Anido, Oscar Cáceres, Nicanor Teixeira, Jodacil Damasceno e um então menino chamado Turíbio Santos.

Paulinho começava a escrever em sua história num bloco de Botafogo, eu morava no bairro da Glória, já pertinho da Taberna.

– Olá, como vai?
– Eu vou indo, e você?

E é claro que não foi bem assim. Ele trabalhava num balcão de um banco onde eu ia pagar contas, um olhou pra cara do outro – a gente já se conhece, né? – e nos conhecíamos sim das rodas de choro na casa de Jacob. Conhecíamo-nos “de vista”, como se diz comumente. A partir daí nos tornamos amigos e, acho eu, parceiros.

Parceiros também no convívio com Walter Wendhausen, que morava com Luiz Canabrava – ambos desenhando anúncios de dia, e nos fins de semana continuavam pintando, inclusive o sete. Porrancas federais.

Vamos, agora, nos mudar para Copacabana – década de 60, nova residência do Walter. Em frente, moravam Toninho e Liana Ventura. Mais tarde, mas muito mais tarde, a filha do casal, Lianinha, se casaria com Raphael Rabello (que viria a ser cunhado de Paulinho, que desposou Lila, que tem o poeta Paulinho Pinheiro como cunhado, casado que é com Luciana Rabello, a Magnífica). Mas não vamos desfolhar o calendário antes do tempo.

Avenida Nossa Senhora de Copacabana, perto da Duvivier, que apartamentão! Liana, filha do senador Dix-Huit Rosado, e Walter já morando num prédio que dava de cara com o do casal Ventura. Para estabelecer amizade eterna, com juras de amor ad infinitum, foi um pulo. “Marreco” era como Liana apelidou Walter. Não me perguntem pela foto em que aparecem Clara Nunes e Martinho da Vila numa daquelas feijoadas memoráveis promovidas pelo casal. Não saberia precisar a data.

Mas, e pontuando apenas essas lembranças: a casa dos Ventura era um território livre, mas não com as características da casa de Aníbal Machado ou da antiga residência de Walter. Alguns remanescentes, como Harry Laus e Eneida (sempre com um copo de uísque à mão) permaneceram. Grande Eneida que lavrou seu memorável epitáfio: “Essa mulher nunca topou chantagem”. Na época do golpe de 64, Wendhausen arrumava as trouxas e ia dormir na casa da escritora, temendo que ela fosse presa. Iria junto. E seriam inevitavelmente soltos. Ninguém iria agüentar e esbórnia que certamente promoveriam.

Fiquemos, pois, naquela década sessentina, Paulinho já amigo e admirador de Walter. Lembro do vaticínio de meu amigo:

– Paulinho vai ser um dos grandes.

O “Rosa de ouro”, de 1965, iria confirmar a previsão. O “Rosa” tinha assento vitalício para Wendhausen na platéia do Teatro Jovem.

Bem, retomemos o fio da história. O jovem candidato a pesquisador, encarregado de biografar Canabrava, descobre meu e-meio e me obriga a escavoucar territórios que julgava demolidos, execrados, expulsos de minha lembrança.

Claro, o assunto me interessa. Tenho, às pencas, quadros de Wendhausen e Canabrava – e lembranças vivíssimas daquela época, para mim, de ouro. Imagine, em 51, saindo das calças curtas e descobrindo sua sexualidade, e aluno da vizinha Escola Amaro Cavalcanti (onde mais tarde Paulinho também estudaria) me descobrir habitando o mesmo Olimpo de pessoas que só conhecia à distância. Pois tive que fazer um processo de regressão, pra responder ao questionário que me foi enviado: onde, quando, como conheci Canabrava.

Nesse troca-troca de e-meios, meu jovem interpelante vai catando as pistas que lhe dou, vasculha nosso saite, encontra fotos de Canabrava, escarafuncha escaninhos empoeirados – e se deslumbra com o fato de Paulinho da Viola ter se inspirado no livro “Por onde andou meu coração” para compor o “Foi um rio que passou em minha vida”, numa época em que embaralhei sua vida artística com um samba-exaltação, e qual?, “Sei lá, Mangueira”. Ele portelense, eu um verde-e-rosa arrastando-o pra um samba em homenagem à escola oponente. E onde conheceu Maria Helena Cardoso, Elena, irmã de Lúcio, autora do livro? Na casa de Walter e Canabrava, suponho eu. (O jovem é também biógrafo de Lelena e desconhecia esse fato).

Todos nós somos, um pouco, frutos de uma época que, igual à de Aníbal Machado ou Gertrude Stein, os poetas músicos pintores se alimentavam de pensamentos, desovando em matéria-prima rara aquilo que nossos sábios mentores, sem saberem-se mestres, nos ditavam.

Forneço esse resumo porque, cada vez mais, me sinto fazendo uma viagem regressiva ao apartamentinho de Wendhausen e Canabrava, que tanto e tanto me ensinaram.

Quando vejo a meninada da Escola Portátil de Música, e as experiências relatadas por eles e seus Mestres Oficineiros, percebo que cada um teve fomentada suas vocações por wendhausens e canabravas. E, independentemente das obras artísticas que nos legaram, advertiram-nos o quanto é preciso aguçar a arte de prestar atenção.

Meu jovem pesquisador, aspirante a biógrafo de Canabrava, me fez encontrar na Internet essa pérola: “Como diria o artista Walter Wendhausen, o mundo está aí, com tudo que tem de belo, para ser visto – basta saber olhar”.

Paulinho da Viola, com sua percepção aguda e um verso extraordinário, talvez nem tenha lido essa declaração de Wendhausen – mas que estava na essência de nossa relação com aquele artista. Aliás, com aquele grupo de artistas.

Afinal, as coisas estão no mundo – bastando-nos apenas apurar a arte do apercebimento."

Link original: 
http://acervohbc.blogspot.com.br/2010_05_01_archive.html


domingo, 30 de setembro de 2012

Harry Laus em Saint-Nazaire, França


Harry Laus, em julho de 1988, visita os túmulos de Dissignac*, próximo a Saint-Nazaire, França, e fala de suas influências, de seu recente livro e de seus projetos...
(direitos de MEET -- Maison des Écrivains Étrangers et des Traducteurs, Saint-Nazaire, France -- Música de Geneviève Borda)
No video aparecem sua irmã Ruth Laus e sua tradutora Claire Cayron.
*Tumulus de Dissignac são uma construção megalítica com 10 câmaras funerárias situadas a 5km de Saint-Nazaire, descobertos em 1873. Estima-se que tenham sido construídos a partir de 4.700 anos antes de Cristo.
http://www.maisonecrivainsetrangers.com/Harry-Laus.html

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Travessa Harry Laus em Florianópolis


A Cidade de Florianópolis homenageou Harry Laus dando o seu nome a uma pequena travessa na Beira-Mar Norte (mais ou menos em frente a Praça Portugal), situada entre a Rua Almirante Lamego e a Avenida Jornalista Rubens de Arruda Ramos (próximo à Rua Desembargador Arno Hueschi). Clique na foto para vê-la ampliada...

Sala Harry Laus na UFSC


Sala com o nome de Harry Laus na Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina. Com 40 lugares tem TV, som, video, tela e projetor, quadro magnético e sistema de teleconferência...