domingo, 30 de setembro de 2012

Harry Laus em Saint-Nazaire, França


Harry Laus, em julho de 1988, visita os túmulos de Dissignac*, próximo a Saint-Nazaire, França, e fala de suas influências, de seu recente livro e de seus projetos...
(direitos de MEET -- Maison des Écrivains Étrangers et des Traducteurs, Saint-Nazaire, France -- Música de Geneviève Borda)
No video aparecem sua irmã Ruth Laus e sua tradutora Claire Cayron.
*Tumulus de Dissignac são uma construção megalítica com 10 câmaras funerárias situadas a 5km de Saint-Nazaire, descobertos em 1873. Estima-se que tenham sido construídos a partir de 4.700 anos antes de Cristo.
http://www.maisonecrivainsetrangers.com/Harry-Laus.html

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Travessa Harry Laus em Florianópolis


A Cidade de Florianópolis homenageou Harry Laus dando o seu nome a uma pequena travessa na Beira-Mar Norte (mais ou menos em frente a Praça Portugal), situada entre a Rua Almirante Lamego e a Avenida Jornalista Rubens de Arruda Ramos (próximo à Rua Desembargador Arno Hueschi). Clique na foto para vê-la ampliada...

Sala Harry Laus na UFSC


Sala com o nome de Harry Laus na Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina. Com 40 lugares tem TV, som, video, tela e projetor, quadro magnético e sistema de teleconferência...

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Os irmãos Laus em Saint-Nazaire, França


Os irmãos Harry (1922-1992) e Ruth (1920-2007) em sua estadia, em 1988, na Maison des Écrivains Étrangers et des Traducteurs, em Saint-Nazaire (cidade portuária a 50km à oeste de Nantes na Foz do Rio Loire. Saint-Nazaire fica a 500km de Paris).

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Conto de Harry Laus participa de CD


Foi lançado o CD de título Encantos em Contos na Rádio produzido pela Rádio Comunitária Campeche (98,3 fm), Florianópolis, SC, sob a coordenação de Aline Maciel e Débora Daniel. Trata-se de uma antologia que reúne 17 contos de autores catarinenses que foram dramatizados para serem ouvidos.

Eis a escolha dos contos: A Dama e o General (Raquel Wandelli), Grotesca Armação (Silveira de Souza), O Povão na TV - O Povo na Rádio (Holdemar Menezes), A Primeira Noite de Liberdade (Cristóvão Tezza), Vigília de Ano Bom (Almiro Caldeira), Nem Todas as Kombis são Brancas (Mário Pereira), Noite (Guido Wilmar Sassi), Testemunha do Tempo (Guido Wilmar Sassi), O Motivo (Hoyêdo G. Lins), A Morte de Deus (Hamilton Alves), Descanse em Paz (Eglê Malheiros), O Professor de Inglês (Harry Laus), Bruxas Gêmeas (Franklin Cascaes), Pedrinho Menez Vai Voltar Rico (Flávio José Cardozo), Bruxa Rouba Meio Alqueire (Franklin Cascaes), Rosina e Pedro (Urda Klueger), O Tesouro da Nica, a Sonhenta (Rio Apa).

O referido projeto de rádio dramatização recebeu o Prêmio Roquete Pinto.

Eis a notícia conforme publicada no website da Rádio Comunitária Campeche (Florianópolis, SC):

Encantos em Contos na Rádio: rádio-dramatização dos Contos Catarinenses:

A Rádio Comunitária Campeche finalizou um importante processo de popularização da literatura catarinense, com a gravação de 17 rádio-contos, adaptados de escritores locais. Figuras importantes das letras catarinenses como Urda Klueger, Franklin Cascaes, Flávio Cardoso, entre outros, emprestaram suas criações para uma dramatização que, além de tocar na rádio, agora está também disponível em CD.

A organização do trabalho foi feita por Aline Maciel e Débora Daniel e a adaptação dos contos escritos para roteiro de rádio-dramatização leva a assinatura das duas coordenadoras, mais Sigval Shaitel, Révero Ribeiro e Marcello Trigo. Um elenco de atores e colaboradores da Rádio Campeche dá vida às histórias que falam das coisas catarinas.

O CD, chamado de “Encantos em contos na Rádio – rádio-dramatização de contos catarinenses”, recebeu o Prêmio Roquette Pinto – Primeiro Concurso de Fomento a Produção de Programas Radiofônicos – e pode ser adquirido direto na Rádio Campeche. Os recursos arrecadados servirão para manter em funcionamento esse importante instrumento de luta e organização da comunidade do Campeche.

Quem conhece a história da Rádio Campeche, nascida em 1998, fruto das importantes lutas sociais travadas no bairro, sabe: é na disputa comunicacional que reside uma importante frente de batalha na guerra contra o modo de produção capitalista que tudo destrói em nome do lucro. Assim, aliando a disseminação da cultura com a soberania comunicacional, a comunidade vai avançando pelas ondas do rádio, mostrando que é possível se fazer uma comunicação que informa e forma, sendo também conhecimento.

Quem quiser colaborar com o projeto da rádio e de quebra levar para casa o CD com os contos, é só passar na rádio ou fazer contato com a gente. Não temos preço fixo e a pessoa colabora com o que pode. O importante é fazer a sua parte no fortalecimento da cultura e da comunicação comunitária.

http://radiocampeche.com.br

Retrato de Harry Laus II


Retrato de Harry Laus por Heitor Seixas Coutinho
Óleo s/tela, sem data
91,5cm x 60,0cm
Acervo do MASC – Museu de Arte de Santa Catarina

terça-feira, 18 de setembro de 2012

FRATURA


Há exatos 20 anos e no mesmo dia, as artes visuais e a literatura perderam dois importantes entusiastas catarinenses.

Algumas pessoas não morrem. Depois do luto, elas aparecem em nova corporalidade, no legado de um corpo de ideias nascido de suas escritas, obras, pensamento, algo inquantificável, não visível. Tangentes, no atravessamento de décadas, seus acervos continuam vibrantes, se não pela força de ações físicas e intelectuais pela falta que representam no universo em que atuaram como protagonistas. O crítico de arte e escritor Harry Laus e o artista Luiz Henrique Schwanke estão na história cultural de Santa Catarina e do Brasil, como homens de ideias inovadoras que transformaram caminhos e existências.

A morte se mostra ainda mais provocadora quando, por forças desconhecidas, impõe duas perdas a um mesmo momento, como ocorreu há 20 anos com Laus e Schwanke. O dia 27 de maio de 1992 é lembrado, por alguns, como uma tragédia cultural. O fim dessas vidas interrompeu trajetórias de absoluta dedicação. “Tudo se perde quando Laus morre, porque ele dá materialidade ao circuito, estimula os artistas, oferece uma produção teórica, um corpo de referências, instrumentaliza e organiza espaços com ferramentas adequadas”, diz o artista Fernando Lindote. Na linha do tempo da história da arte, a data equivale a uma fratura exposta.

Inseridos no sistema de arte, um conjunto de relações, processos e mediações institucionais entre artistas, galerias, museus, fundações, entidades, colecionadores, gestores públicos, historiadores, estudiosos, críticos, curadores e o público, os dois atuaram nos anos 1970 e 80. Bem informados sobre o que ocorria no mundo, cada um a seu modo, lutou pela constituição, organização e difusão do patrimônio simbólico de Santa Catarina. Interlocutores no campo das reflexões estéticas, encontraram um no outro a possibilidade de diálogo e crescimento. Laus e Schwanke obrigam a pensar os desafios estéticos destas décadas, momento de modernização do sistema no Estado. Cheio de inquietudes, Laus morou em 43 cidades antes de 1976, quando retornou ao Estado como um dos críticos de arte mais respeitados no Brasil. Escritor e jornalista, tinha disposição para um trabalho contínuo que buscava a modernidade e a profissionalização. Morou em Joinville, Porto Belo, Florianópolis, não tinha um paradeiro. Dirigiu o Museu de Arte de Joinville, entre 1980 e 82, e o Museu de Arte de Santa Catarina, entre 1985 e 87, e 1989 até a sua morte.

Incansável, sempre em movimento, descobriu talentos, aproximou pessoas, produziu pensamento crítico, alavancou autoestimas. Uma análise na agenda do Museu de Arte de Santa Catarina depois do seu desaparecimento comprova que a geração dos anos 1990 ficou órfã. Instaura-se uma penumbra com o fim dos panoramas, retrospectivas, perspectivas, como denominava suas mostras. Com aguçado olhar e muito conhecimento, Laus era generoso, tinha objetivos em favor do Estado. Condutor, força basilar, mostrava-se um curador sem a vaidade visível hoje em profissionais mais preocupados com o currículo pessoal do que com as articulações necessárias ao circuito. Como crítico de arte, assinou cinco textos sobre Schwanke, praticamente um por ano. Publicadas em coluna de jornal, suas reflexões sobre a produção do joinvilense sinalizam o mestre que aponta atributos. “Com o mínimo, Luiz Henrique explora ao máximo as possibilidades das tintas, das cores, dos suportes, conseguindo sempre um resultado novo e surpreendente”, escreve em 1987. Dois anos depois, afirma que, no trabalho do artista “existe a confluência de diversas correntes atuais, o que confere consistência contemporânea. E o que lhe acrescenta maior grandeza é a centelha de invenção e criatividade que repele classificações inúteis por não precisar delas para impor-se”.

Na distância destes 20 anos, é possível falar de uma “época de Laus”, momento com uma fisionomia corajosa, audaz, poética, no qual Schwanke encontrou estímulo para avançar em suas pesquisas. No descompasso cultural de Santa Catarina, havia muito a fazer. Um apoiou o outro. “Temos que ajudar Laus a conseguir que o Masc seja todo pintado de branco, assim nossas seriam obras valorizadas exclusivamente por suas cores e formas. O nosso Masc é maior que o Kunstverein de Berlim, e tem condições parecidas de estrutura”, reflete Schwanke em uma carta que compartilha os anseios dos artistas e expõe a sintonia que os uniu.

Harry Laus
Nasceu em Tijucas em 1922. Militar, escritor, jornalista e crítico de arte, deixou uma obra substancial. Seus livros, traduzidos em outros países, em especial na França, estão no mapeamento da homotextualidade na literatura brasileira. É o autor do importante Indicador Catarinense das Artes Plásticas. Integrou a Associação Brasileira de Críticos de Arte e a Associação Internacional de Críticos de Arte. Morreu em Florianópolis.

Luiz Henrique Schwanke
Nasceu em Joinville em 1951. A produção, com cerca de 5 mil trabalhos, conjuga tradição e experimentação em três momentos distintos: em 1970, produz numa linha de cunho conceitual; em 1980, faz pinturas que apostam no emocional e, em 1990, num percurso mais racional, cria esculturas e perfis de plástico, além de instalações com o uso de luz elétrica. Alinha-se à pop art, ao neoexpressionismo e ao minimalismo. Morreu em Joinville.

* Néri Pedroso é jornalista, presidente do Instituto Schwanke
Publicado no Jornal A Noticia (Joinville) em 27 de maio de 2012

Retrato de Harry Laus I


Retrato de Harry Laus
por Lourival Pinheiro de Lima (Lôro)
Óleo s/Tela, 1992, 146cm x 106 cm.
Acervo do MASC – Museu de Arte de Santa Catarina

Extrait Harry Laus


Publicado no MEET – Maison des Écrivains Etrangers e des Traducteurs (http://www.maisonecrivainsetrangers.com/Extrait-Harry-LAUS.html)

Harry LAUS La première balle
traduit du portugais (Brésil) par Claire Cayron
ISBN 2-903945-48-6
1989
7 €

Florianópolis – São Paulo, première étape.
À l’hôtel où j’allais séjourner avant de poursuivre mon voyage, le souvenir d’un ami me revint nettement en mémoire : dans ce même endroit il avait logé une fois. Le remords se mit à m’accompagner.
Le portier lisait le journal et me répondit à peine, en me tendant la fiche à remplir. Puis, le garçon demanda mes bagages.
— Seulement ce sac.
Il m’accompagna jusqu’à la chambre, ouvrit les rideaux clairs, et le bruit des voitures sur l’asphalte de la rue entra comme un contrepoint à mes souvenirs.
— Fermez ça, s’il vous plaît.
— Pardon, monsieur, ce sont les ordres.
Il ouvrit puis ferma la télévision et l’air conditionné, alluma puis éteignit toutes les lumières pour me montrer les interrupteurs.
Distraitement, je pris un billet dans ma poche et le tendis au garçon. À sa joie, je compris que c’était trop, mais il n’était plus temps de revenir en arrière.
— En cas de besoin, il suffit de sonner. Je m’appelle Alfredo.
Il avait les joues creuses et des yeux noirs, brillants – un chien qui attend un ordre.
— C’est bon, Alfredo. Pour commencer, apportez-moi une bouteille de whisky et beaucoup de glace. Dans une demi-heure. D’ici-là je vais prendre un bain et me mettre à l’aise.
traduit du portugais (Brésil) par Claire Cayron

Florianópolis – São Paulo, primeira etapa.
No hotel onde ficaria antes de seguir viagem, a figura de um amigo apareceu-me nítida na lembrança : nesse mesmo lugar ele esteve hospedado uma vez. O remorso passou a acompanhar-me.
O porteiro estava lendo um jornal e mal me respondeu, passando-me a ficha de hóspede para eu prencher. Depois, o rapaz da portaria perguntou pela bagagem.
— Só esta sacola.
Acompanhou-me ao quarto, abriu as cortinas claras, e o barulho dos carros no asfalto da rua entrou como contraponto às minhas recordações.
— Feche isto, por favor.
— Desculpe, senhor, são normas da casa.
Ligou e desligou a televisão e o ar condicionado, acendeu e apagou todas as luzes para mostrar-me os interruptores.
Distraído, puxei uma nota do bolso e a estendi ao rapaz. Por sua alegria, percebi que havia exagerado, mas era tarde para recuar.
— Qualquer coisa é só me chamar, senhor. Meu nome é Alfredo.
Tinha as faces encovadas e os olhos negros, brilhantes, – um cão à espera de nova ordem.
— Está bem, Alfredo. Para começar, traga-me uma garrafa de whisky e bastante gelo. Dentro de meia hora. Enquanto isto, vou tomar banho e pôr-me à vontade.