quarta-feira, 23 de abril de 2008

Carnaval de 1961



A cantora Elizeth Cardoso e Harry Laus (fantasiado) no Baile do Pierrot, em 1961, tradicional baile de carnaval organizado pela saudosa escritora Eneida (1904-1971) no Rio de Janeiro. Abaixo da foto um exemplar do convite que Eneida enviava aos convidados, onde se lia: "este próprio, muito pessoal e intransferível faz participar do 8º baile do pierrot aqui neste Rio, aos 8 de fevereiro de 1965 na boite TOP, na praça do lido, das 23 às tantas. Mas, Eneida exige de (nome do convidado) traje a rigor ou rigorosamente a fantasia de reconhecivel pierrot, arlequim ou colombina."

sábado, 19 de abril de 2008

Harry Laus na Confraria dos Bibliófilos do Brasil

A Confraria dos Bibliófilos do Brasil selecionou contos de Harry Laus para a sua edição especial de Natal de 2007. Livro totalmente artesanal, em tiragem limitadíssima, encadernado e costurado à mão com impressão tipográfica também manual em exemplares assinados e numerados. Em formato grande (22 x 29cm) tem ilustrações serigráficas especialmente realizadas pelo artista plástico catarinense Jayro Schmidt. A Confraria tem sede em Brasília (seu presidente é José Salles Neto) e pode ser contatada pelos telefones (61) 3368.1792 e 3577.3224, ou pelo email conbiblibr@yahoo.com.br

quinta-feira, 17 de abril de 2008

le 3 août 1950

"Ce n'est pas seulement pour écrire "3 août" que je me suis assis à ma table et que je viens d'ouvrir ce carnet. mais ce n'est pas non plus pour parler d'un sujet précis. C'est pourquoi je suis resté plusieurs minutes en suspens, sans savoir quoi dire, et craignant de n'avoir à écrire, finalement, que la date.

En ce moment, je ne sais pas davantage ce que je vais dire, mais cette indécision ou cette ignorance, ou absence de projet se reflète souvent dans mes actes. A force de vouloir trouver les origines de ce comportement, j'en viens à le justifier par le fait d'avoir toujours dû chercher et découvrir, par moi-même, tous les mystères et lieux obscurs de la vie. De n'avoir jamais eu personne pour me guider: ni mère, ni père, ni frère."

(Harry Laus. Journal absurde. Traduit par Claire Cayron. Paris: Corti, "Ibériques", 2000, p. 120)

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Samedi, dix heures

A primeira bala

Samedi, dix heures

Le premier texte que je découvre de l’écrivain brésilien Harry Laus est aussi son premier publié en France, La première balle, une nouvelle brûlante, nourrie d’un superbe revirement. C’est un texte de dix pages, pas plus, précédé d’une préface de Laus lui-même suivi du texte original portugais, puis d’un entretien avec Bernard Bretonnière. L’opuscule est une co-édition des éditions Arcane 17 et de la Maison des Ecrivains Etrangers et des Traducteurs de Saint-Nazaire (dont le sigle M.E.E.T. doit avoir une signification acronymique délibérée).

J’ai lu ce bref récit chemin faisant, en marchant sous un beau soleil retrouvé, dans la douceur de cet automne qui se refuse à commencer vraiment, en allant chercher A. à l’école. Je connais le trajet par cœur, et j’aime généralement profiter de chaque instant, des moindres bribes, des plus infimes variations dans le spectacle, des plus menues nouveautés apportées au décor. Mais là, j’avais envie de lire. De lire La première balle de Harry Laus.

Il vaut mieux ne pas résumer une si brève nouvelle, et il reste donc peu à en dire, si ce n’est qu’elle fut lue chemin faisant, par un fou trop patient, inattentif (pour une fois) aux chats, aux traces d’avion dans le ciel, aux marrons écrasés sur le trottoir, aux visages croisés, aux bordées des véhicules.

Il me reste donc, seul recours en ces cas délicats, à recopier une phrase que j’ai particulièrement aimée, en français et en portugais :

Em vez disso, dei-lhe as costas porque a lembrança de Maíra encheu-me de súbita tristeza e aquele rapaz não tinha o direito de partilhá-la.

Au lieu de cela, je lui tournai le dos parce que ce souvenir m’emplit d’une subite tristesse et que le garçon n’avait pas le droit de la partager.

P.S.: J'ai omis de préciser que la traductrice de ce texte de Harry Laus s'appelle Claire Cayron (et que la nouvelle a été écrite au Cay-Rou...!)

(Extraído do blog Touraine Sereine postado em 8 de outubro de 2005)

No Rio em 1980

Harry Laus autografando livro no Rio de Janeiro em 1980

Harry Laus - um encontro

Acontecem algumas coisas engraçadas comigo. Por exemplo, a forma como vim a ouvir falar de Harry Laus.

Um dia estava escutando um programa literário na RFI (Radio France Internationale) quando a repórter começou a falar entusiasticamente sobre um escritor brasileiro chamado Harry Laus, que morreu em 1992 e estava tendo sua obra completa traduzida e publicada na França. Prestei atenção porque nunca tinha ouvido falar em Harry Laus e o entusiasmo da francesa me pareceu estranho. Além disso, os textos de Laus estavam sendo traduzidos para o francês nada menos que pela grande Claire Cayron, a prestigiada tradutora de, entre outros, Miguel Torga e Caio Fernando Abreu.

Fiquei pensando: "Putz, os franceses lá híper empolgados com esse tal de Harry Laus, e eu que nunca ouvi falar dele..." Me deu uma certa vergonha, sim. Então agora eu era obrigado a ouvir falar de escritor brasileiro através dos franceses??? Nem o Nelson de Oliveira, que tem feito um belo trabalho de resgate de grandes autores esquecidos, tinha falado dele. Fui pesquisar e quase não achei nada sobre Harry Laus. O Submarino não tinha nada sobre ele, e não ter nada no Submarino é quase sinônimo de inexistência. Na reportagem da RFI se dizia que Laus era homossexual (um detalhe, só), e sempre me interessei por escritores homossexuais, principalmente os que escreviam na minha língua. A repórter derramava-se em elogios sobre o estilo do autor, sobre os livros que estavam sendo publicados na França.

Pesquisei mais um pouquinho e achei detalhes: Laus tinha nascido em Santa Catarina (ah, tava explicada a sua "inexistência"), fora militar, escritor, ensaísta, diretor de museus. Era o autor de um romance chamado Os papéis do Coronel, elogiadíssimo, usado em provas no Vestibular. Era praticamente impossível achar alguma obra sua pra comprar. Sua irmã, a jornalista Ruth Laus, era quem estava "mantendo viva" a sua obra, publicando-a através do apoio governamental lá em Santa Catarina. Fiquei com vontade de escrever para ela, pedindo que me enviasse algum exemplar de uma obra do irmão, mas acabou que me esqueci de tentar achá-la na internet.

Não é que hoje topei, totalmente por acaso, com um volume que reúne seus contos e novelas? Ao juiz dos ausentes, uma belíssima edição feita por sua irmã Ruth. Com fotos, cronologia das obras, cartas e estudos de alguns intelectuais e escritores do Brasil (Jorge Amado, Renard Perez) e da França. E por uma pechincha, na Berinjela. Mais do que depressa, catei as moedinhas e comprei o livro. Ele reúne seis livros do autor: Os incoerentes, Ao juiz dos ausentes, O santo mágico, Caixa d'aço, Sentinela do nada e Monólogo de uma cachorra sem preconceitos. Logo na orelha, fui fisgado por dois textos de H. Laus:

É fundamental que não se aceite simplesmente a vida: é preciso sofrê-la, interpretá-la, dirigi-la a um fim que tudo justifique. Acreditar em si e nesse objetivo até o momento em que fique provada a inutilidade desse ideal, ou a impossibilidade de realizá-lo. Então, ter a coragem e a força para substituí-lo. Tudo isso a vida exige de nós; portanto, depende de nós, é grande a missão que nos foi confiada.

e

Enquanto limpava um pouco o jazigo e olhava o medalhão com o retrato de Egeu, pensei que naquele pedaço de terra eu também estarei um dia. Pensei nisso tranquilamente, não como em criança. Naquele tempo eu tinha medo de morrer e quando voltava do cemitério via cruzes por todo o quarto, de noite, e me atemorizava pela incompreensão da morte. Hoje ainda não a compreendo, é certo, mas aceito-a calmamente, aceito sua realidade sem medo, mas com muita tristeza... porque minha vida, como é, e pelas esperanças que deposito nela, eu a amo e não desejo perdê-la.

Não são textos ficcionais, mas são belos textos que deixam adivinhar o escritor que Laus é. Comecei lendo o primeiro conto do livro: Os minutos do professor. Uma pequena obra prima (2 páginas) de contenção e equilíbrio.

Abaixo vai uma pequena Biografia, que achei na internet (há também uma análise de seu romance Os papéis do coronel):

Seguiu a carreira militar, aposentando-se em 1964. Foi renomado crítico de Artes, conhecido no Brasil inteiro por sua intensa atividade jornalística que se estendeu por trinta anos. E também foi escritor, atividade que, somada à de leitor, constituiu a verdadeira paixão de sua vida. Publicou muitas novelas e contos na França, inclusive Les Jardins du Colonel, traduzido no Brasil como Os Papéis do Coronel. Para a tradutora francesa, Harry Laus atinge a emoção sem desperdícios, através de intenso trabalho.

Era um escritor muito meticuloso, consciente e refletido. Escrever era um trabalho ao qual ele se atirava com sua habitual seriedade e um frenético desejo de atingir "o resultado, o sumo, a essência", nas palavras do Coronel desse romance. Aliás, único romance de Harry Laus. Em Os Papéis do Coronel, o texto coloca seriamente a questão do escrever, deixando-nos o testemunho do processo literário de Harry Laus, suas angústias, questionamentos e seu caminho interior.

Harry Laus nasceu em 1922, em Tijucas, e morreu em Florianópolis em 1992.

Saint-Clair Stockler

(Extraído do Live Journal de Saint-Clair Stockler, escrito em 8 de junho de 2004 - Saint-Clair é escritor, poeta, tradutor e professor e vive no Rio de Janeiro)